Governador Robinson Faria durante o discurso de posse, em janeiro de 2015 (Foto: Gabriela Freire/G1) |
Uma interceptação telefônica feita pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte
revela que o governador do Estado, Robinson Faria (PSD), buscou
informações sobre a investigação que resultou na operação Dama de
Espadas. O áudio, feito com autorização judicial, foi captado em agosto
de 2014, quando Robinson ainda era candidato ao governo, na reta final
da campanha eleitoral. Ele conversa com a então procuradora-geral da
Assembleia Legislativa, Rita das Mercês Reinaldo, uma das acusadas
presas na operação do MP que apura o suposto desvio de R$ 5,5 milhões da
Casa. A interceptação foi obtida com exclusividade pelo G1.
O telefone de Rita das Mercês estava grampeado por decisão judicial. Ela
é investigada por suspeita de envolvimento em fraudes ocorridas na
Assembleia Legislativa, que acabaram levando o MP a deflagrar a operação
Dama de Espadas. Às 16h17 de 26 de agosto, Robinson ligou para Rita,
então procuradora-geral da Assembleia, e a questionou sobre o fato de
algumas pessoas que trabalhavam lá estarem sendo intimadas para depôr ao
MP. (Ouça ao lado a íntegra da interceptação da ligação entre Robinson Faria e Rita das Mercês)
ROBINSON - (…) O que é que você está achando disso ai? É o que?
RITA - É. A gente tá trabalhando, né? O presidente tá trabalhando. Já trabalhou já hoje, certo?
O “trabalho” citado na conversa entre Robinson e Rita seria uma
conversa entre Ricardo Motta e o procurador-geral de Justiça do RN,
Rinaldo Reis. Na manhã do mesmo dia 26 de agosto, Rita teria participado
de uma reunião entre Ricardo e Rinaldo na Assembleia Legislativa.
RITA - (…) Eu dei a entender hoje na hora da reunião lá que não era
interessante pra ele lá, porque agora um negócio que está para
prescrever, né? (…) Ele disse: 'vou procurar me inteirar e tal'. Eu
disse: 'inclusive você viu, você estava na minha sala semana passada
quando chegou e eu mostrei e tal'. Aí ele disse: 'Não. Eu vou procurar
me inteirar e tal. Não é o momento. Vou reunir com o pessoal. Vou
conversar, porque não é o momento. Vou conversar'.
Robinson Faria foi presidente da Assembleia entre 2003 e 2010. Durante
este período, Rita, que já era procuradora-geral, manteve-se no mesmo
cargo. Em outro trecho da conversa, ele perguntou à Rita das Mercês
sobre qual época seria a investigação do Ministério Público.
ROBINSON - (…) É avulso? Ou é de um período só, ou uma certa época?
RITA – Avulso. Avulso.
ROBINSON - Tem atual e atrasado ou de época só? Ou certa época?
RITA - Tem só atrasado, só de atrasado. Tem gente já exonerado,
entendeu? Tem gente efetivo. Tem aposentado, sabe? Fizeram uma
miscelânea lá.