Foto: Pedro Ladeira – 26.mai.2015/Folhapress |
Depois de passar quase três meses na
prisão, o senador e ex-líder do governo Delcídio do Amaral (PT-MS) volta
ao Senado nesta semana, estuda tirar uma licença de até 120 dias e já
avisou a aliados que não admitirá ter o mandato cassado, um de seus
maiores temores.
“Se me cassarem, levo metade do Senado
comigo”, afirmou a interlocutores quando ainda estava preso. A frase foi
entendida como uma ameaça de que está decidido a entregar seus pares
caso lhe tirem a cadeira de parlamentar.
Ao retornar ao Senado, Delcídio fará
corpo a corpo com os demais colegas, argumentando que é inocente e
pedindo amparo. Deve bater às portas de integrantes de partidos aliados e
da oposição, com quem sempre manteve diálogo. Poucos, no entanto, devem
ser os que darão apoio público ao petista.
Uma das maiores preocupações do senador é
ter o mandato cassado porque, com isso, ele perderia o chamado foro
privilegiado e seu caso iria para a primeira instância. Lá seria
analisado pelo juiz Sérgio Moro, do Paraná, que tem sido célere em suas
decisões envolvendo réus da Operação Lava Jato.
Em 1º de dezembro, dias após a prisão do
senador, o Senado recebeu representação feita por dois partidos, Rede
Sustentabilidade e PPS, que pedem a cassação de Delcídio sob acusação de
quebra de decoro parlamentar.
O processo foi aberto no Conselho de
Ética da Casa, sob relatoria do senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Na
semana passada, a defesa de Delcídio pediu a substituição do relator,
alegando que o tucano não pode permanecer na relatoria do caso por falta
de isenção do PSDB. O pedido ainda será analisado.
DESGASTE
Correligionários do petista veem a
licença como uma alternativa para, em um primeiro momento, evitar mais
desgaste ao próprio senador e ao PT, uma vez que não precisariam
conviver cotidianamente com um colega em regime de prisão domiciliar.
Quando estava preso, o petista foi
colocado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em uma
licença especial e manteve o salário de R$ 33,7 mil e demais benefícios
do cargo.
Solto, o senador tem a opção de uma
licença por questões médicas ou por motivos pessoais (neste caso, ele
não receberia salário). Ao final desse prazo, caso ele não retorne, o
suplente é chamado para assumir o mandato.
Outro motivo de constrangimento é a
presidência da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, ocupada
anteriormente por Delcídio. O PT não quer vê-lo de volta ao posto.
O líder do partido no Senado, Humberto
Costa (PE), afirmou à Folha que a substituição de Delcídio pela senadora
Gleisi Hoffmann (PR) na CAE já foi, inclusive, publicada no “Diário
Oficial”.
Boa parte dos petistas vê a troca como
ponto pacífico, por não acreditar que o colega tenha condições morais e
força política para comprar briga pela permanência.
O STF decidiu prender Delcídio baseado
em gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras
Nestor Cerveró. Na conversa, um plano de fuga e uma mesada de R$ 50 mil
foram propostos por Delcídio em troca de Cerveró não fazer delação
premiada. O ex-diretor, no entanto, acabou assinando acordo de delação.
Folha Press